Estudo desenvolvido por investigadora do ICS-UCP afirma que “A intenção de fazer exercício físico é facilitada mais pela observação de outros a fazer exercício físico, do que pela própria participação no exercício físico"

Thursday, April 28, 2022 - 09:57

Surpreendentemente, ver os outros a fazer exercício físico impacta mais fortemente a intenção de fazer exercício físico, do que fazer exercício físico propriamente dito. Um novo estudo mostra que talvez seja melhor mostrar filmes de outros a fazer exercício físico a potenciais clientes de um ginásio do que oferecer uma aula gratuita. Observar os outros fazer é mais eficaz para aumentar a intenção de participação, tanto em pessoas sedentárias como em pessoas ativas.

O estudo intitulado “The impact of action observation on the intention for action engagement” foi publicado esta semana, no International Journal of Sport and Exercise Psychology. Este estudo, apoiado pelo Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde (CIIS), foi concebido por Ana Maria Abreu, uma investigadora na área da Psicologia Experimental da Universidade Católica Portuguesa, em conjunto com Belén Rando do ISCSP-UL e Cristina P. Monteiro da FMH-UL.

“Já sabíamos que existe uma rede neuronal partilhada que se ativa quando vemos fazer e quando fazemos. Outros autores já tinham sugerido que o nosso corpo se ativa quando vemos os outros fazer exercício, como se nos preparassemos para a ação. Ficámos curiosas e quisemos investigar se seriam estes mecanismos a potenciar a intenção de participar no exercício físico. Isto é, se eu vir outro a fazer exercício físico e os meus músculos se preparam para a ação, então este processo de mimetização temporária poderá ser o mecanismo que leva à intenção de fazer exercício físico também” conta Ana Maria Abreu. 

A equipa de investigadores analisou a vontade que os participantes tinham em fazer exercício físico e recolheu amostras de cortisol salivar antes e depois de participarem em cada uma de três condições: observação de outros a fazer exercício físico; participação numa prova de exercício físico agudo; e uma situação de controlo. “Verificámos que apesar do aumento de vontade de fazer exercício físico na condição de observação, esta vontade não estava associada a um aumento da secreção de cortisol”.

“Nós pensávamos que iriamos encontrar um aumento de secreção de cortisol com o suposto aumento de atividade cerebral das áreas motoras que, supostamente, estaria associado aos processos de mimetização temporária e de preparação para a ação. No entanto, nada disto aconteceu”, diz Ana Maria Abreu. A Equipa sugere que o processo motivacional que afeta a intenção de fazer exercício físico poderá, afinal, resultar de estratégias cognitivas superiores e não de processos proprioceptivos básicos de mimetização.

Para além disto, a equipa ficou surpreendida por não existirem diferenças de produção de cortisol entre participantes sedentários e ativos. “O cortisol é uma hormona que se liberta em resposta ao stress e o exercício físico é um tipo de stress físico. Assim, esperávamos que a produção de cortisol variasse de acordo com a intensidade da tarefa, e que os sedentários percepcionassem a tarefa de exercício físico como mais intensa. No entanto, isto não aconteceu e outros fatores poderão mediar a produção de cortisol”, refere Ana Maria Abreu.   

“O nosso estudo enfatiza a importante influência da observação da ação no processo decisional, nomeadamente na decisão de adesão ao exercício físico e esta informação poderá vir alterar a forma como estamos a incentivar as pessoas para se tornarem mais ativas” refere a investigadora da Universidade Católica Portuguesa.  

Link do artigo

Referência: Abreu, A. M.*, Monteiro, C. P., & Rando, B. (2022). The impact of action observation on the intention for action engagement. International Journal of Sport and Exercise Psychology. Advance online publication. https://doi.org/10.1080/1612197X.2022.2066707