“O conhecimento e a educação são ferramentas poderosas que podem transformar vidas.” E no caso de Helena Carmo isso não podia ser mais verdade. É a primeira surda a doutorar-se pela Universidade Católica Portuguesa, e segunda pessoa surda doutorada em Portugal. “Concluir o doutoramento foi um marco muito importante, tanto a nível pessoal como para a comunidade surda,” partilha a recém-doutorada em Ciências da Cognição, Linguagem e Neurociências.
A dias de receber a carta doutoral, na sessão solene do Dia Nacional da Católica, dia 7 de fevereiro, assegura: “Este doutoramento representa o reconhecimento do potencial e da capacidade das pessoas surdas no meio académico e reforça a importância da acessibilidade no ensino superior. Espero que este seja um passo para abrir mais portas a outros estudantes surdos.”
Para este feito, foi essencial o apoio da Universidade, assegura a doutorada e investigadora da Faculdade de Ciências da Saúde e Enfermagem. “A Universidade Católica deu-me essa oportunidade, permitindo que este percurso fosse possível.”
Tendo ganho uma bolsa de investigação pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, a tese, intitulada "Aspetos Fonológicos, Morfossintáticos e Semânticos da Negação em Língua Gestual Portuguesa: O Caso do Gesto NÃO_HAVER", aprofunda os mecanismos linguísticos da negação na Língua Gestual Portuguesa (LGP).
Concluída com distinção, a tese apresenta “uma descrição mais aprofundada da estrutura linguística da negação, clarificando padrões gramaticais e contribuindo para o avanço dos estudos sobre a LGP, uma língua ainda pouco investigada e conhecida no meio científico.”
Com esta conquista, Helena deixa não só uma mensagem de motivação, como também um contributo muito concreto para a LGP e para o ensino desta língua, “promovendo um melhor conhecimento da sua estrutura e funcionamento, bem como a sua valorização e preservação.”
A par deste marco histórico, Helena acredita que ainda há muito a fazer para garantir a acessibilidade no ensino superior, como por exemplo: “contar com intérpretes de LGP qualificados na tradução entre a Língua Portuguesa e a Língua Gestual Portuguesa, bem como com 'notetakers' – anotadores para digitar resumos de aulas ou palestras.”
“Enfrentar limitações, obstáculos ou dificuldades faz parte do percurso académico, mas para as pessoas surdas como eu, esse desafio é ainda maior”, comenta Helena. “No entanto, nenhuma dessas dificuldades deve ser um impedimento para alcançar os nossos objetivos.”